quarta-feira, 8 de julho de 2009

QUEM CHEGA PARA O ASSISTENTE SOCIAL? O SUJEITO E SUA SUBJETIVIDADE!

Uma resposta simples, mas extremamente polêmica. No transcorrer da história do Serviço Social a subjetividade sempre foi uma categoria emergente.

Mary Richmond, em sua época, já incluía a necessidade de se estar atento às emoções do “cliente”, onde não se ignorava que era um indivíduo que chegava para o assistente social com todas as suas idiossincracias. No entanto, nesse período, para compreendê-lo, o Serviço Social foi buscar nas teorias da psicanálise (Escola Diagnóstica) e da psicologia (Escola Funcional) subsídios para tanto, em que centrava sua ação profissional nas noções de “relacionamento” (relationship) e nas de relações humanas (human relations). Esta busca levou ao psicologismo excessivo da profissão, cujo eixo se dava através das relações interpessoais, concretizada por uma prática profissional des-historicizada e despolitizada em que se buscava a adaptação destes indivíduos, já que se trabalhava a partir da resolução de conflitos com foco na culpabilização dos mesmos. A partir desta perspectiva, a subjetividade, ao longo da história da profissão vem se mostrando como um ‘nó’ a ser superado, já que, para romper com a perspectiva teórica reducionista, a categoria optou em abandonar teoricamente a subjetividade porque a mesma fazia parte essencial da herança do Serviço Social tradicional e das práticas terapêuticas. No entanto, na prática, a subjetividade continua a ser um “nó” porque quem chega para os assistentes sociais é um sujeito que vai trazer a conjuntura através da manifestação de sua subjetividade, que vai se expressar em seus espaços afetivos e de relações. Portanto, inviabilizar, pura e simplesmente, a compreensão da subjetividade sem explicá-la à luz das teorias-críticas é consolidar um dos “nós” atuais que enreda os assistentes sociais em seus contextos de prática cotidiana.

Embora a Questão Social agregue a apropriação da constituição da sociedade capitalista ocidental, para os assistentes sociais ela se constitui em objeto de seus processos de trabalho quando ela permeia o cotidiano dos sujeitos, transformando a subjetividade destes, que as reproduzem em suas relações ao torná-los visíveis pelas suas identidades sociais ao interagirem em seus espaços afetivos e de relações.

Logo, “é importante desenvolver a capacidade de ver, nas demandas individuais, as dimensões universais e particulares que elas contêm. O desvelamento das condições de vida dos sujeitos atendidos permite ao assistente social dispor de um conjunto de informações que, iluminados por uma perspectiva teórico-crítica, lhe possibilita apreender e revelar as novas faces e os novos meandros da Questão Social que o desafia a cada momento no seu desempenho profissional diário” (IAMAMOTO, 2004).

Sabe-se que “o combate ao psicologismo do Serviço Social conservador conduziu à denegação da dimensão do psíquico, como se ela não fizesse parte da realidade ou como se fosse algo secundário e, por conseguinte, menos importante” (NICACIO, 2006, p.6).

No entanto, o Serviço Social como profissão é eminentemente interventivo, faz a leitura do fenômeno social a partir da ótica do sujeito e sua subjetividade deve ser apreendida através dos Fundamentos da profissão já que a mesma se constitui pela manifestação das identidades sociais dos sujeitos em diferentes espaços sociais.

Pode-se afirmar, então, que a subjetividade do sujeito singular se constitui pelo OUTRO (constituído pela base econômica - objetivação - e pelo campo de valores instituído - subjetivação -, que vai compor a identidade social do sujeito singular), isto é, pela realidade que está aí e pelos aspectos ideológicos, políticos e jurídicos que vão também tecendo as relações sociais a partir do que está fora de nós e compõe as identidades sociais destes sujeitos pela objetivação e pela subjetivação. Esta perspectiva teórica do Serviço Social de se apropriar da subjetividade a partir das relações sociais que se constituem pelas relações de produção dimensiona o que se vai chamar de OUTRO, cuja essência é a manifestação da contradição, isto é, o campo do social em que a desigualdade social e a resistência materializam a Questão Social. Portanto, desvendar o objeto, Questão Social, na vida dos sujeitos é dar visibilidade à relação que acontece entre as subjetividades destes sujeitos e a contradição que vai se manifestar pela objetivação e pela subjetivação articulada com suas situações de fragilidade, representada pelas suas identidades sociais em determinados contextos sociais.

Nesta perspectiva, o diálogo dialético que vai se estabelecer entre o assistente social e o usuário vai trazer a marca da contradição, porque ele carrega consigo a explicitação da desigualdade e a possibilidade da resistência que tanto a subjetividade do usuário como a do assistente social estão sujeitos, já que, como pessoas, fazem parte da sociedade de classes constituída pela sociedade capitalista de cunho periférico.

Portanto, retroagir para as práticas terapêuticas é elencar a subjetividade a partir do psicologismo que dominou o Serviço Social tradicional.

No entanto, retomar a subjetividade transformada a partir da objetivação e da subjetivação e explicitada pelas identidades sociais dos sujeitos é trazer para o contexto cotidiano o sofrimento psíquico e a fragilidade destes sujeitos que se insere em um processo sócio-histórico, cuja relação “se realiza num contexto institucional, atravessado por relações de poder e por interesses contraditórios marcado por referências culturais e ideológicas” (NICACIO, 2006, p.9). Esta retomada vai culminar em Processos de Intervenção em que os processos de trabalho dos assistentes sociais vão se constituir na apropriação da contradição com o objetivo de intervir para superar, sem com isto ir em busca do passado ou de práticas terapêuticas para se apropriar da subjetividade dos sujeitos singulares, usuários do Serviço Social, na concretização, então, do Projeto Ético-Político profissional.
Assistente Social Maria da Graça Maurer Gomes Türck

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